4.4.06

LIGA DOS ÚLTIMOS?


Existe um programa na RTPN que é uma espécie de "filet mignon" das emissões da TV portuguesa. Esse programa é o "Liga dos Últimos". Serviço público no seu melhor.
Nele se retratam as peripécias de gentes que tentam levar os clubes da sua terra, na base de muita carolice, ao melhor lugar nas competições em entram. No mais puro amadorismo (verdadeiro amadorismo) convergem essas gentes aos campos das terras onde vivem para apoiar os seus jogadores, na sua maioria habitantes da terra e, muitas vezes, seus familiares ou amigos.
Acompanham-se os esforços que alguns dirigentes desenvolvem para manter a chama futebolística acesa na terra que gostam. Como o caso do presidente do Montargilense, clube alentejano da Associação de Futebol de Portalegre, que além de presidente, era também o treinador, o roupeiro, o delegado de jogo, o responsável pela marcação do campo e da limpeza dos balneários das duas equipas nos dias de jogo.
Também se acompanham os comentários dos adeptos mais castiços de Portugal, embora alguns não saiam das imediações do bar. Mas mesmo esses dizem de sua justiça o que acham da equipa, do treinador, das hipóteses de recuperação na tabela classificativa. Algumas pérolas são lançadas das bocas dos adeptos, como o senhor que dizia que só ia à bola para jogar às cartas no bar, com os amigos. Ou o outro que queria que lhe pagassem cachet para prestar declarações, como os do "jet set", por direitos de imagem.
As crónicas do professor Hernâni Gonçalves, catedrático do futebol, sempre bem humorado, tentando aligeirar os temas apaixonantes do futebol e a comentar os dizeres das gentes entrevistadas.
O totobola das cabeleireiras, das profissionais do corte capilar, tentando adivinhar os resultados de jogos dos regionais.
Assistiu-se ao ?nascimento? de personagens já míticas do panorama televisivo, como o cantor de ópera mais popular, o Nelo Tenor. Homem que cantava (qual Pavarotti) nos campos onde a sua equipa jogava, sempre a divertir as platéias que o ouviam, tal era a sua (digamos assim) originalidade artística.
Este é que é o verdadeiro futebol, vivido com paixão, camaradagem, mas sabendo que o futebol não se esgota nas quatro linhas e o convívio é o mais importante. Claro que os excessos de linguagem são habituais e, por vezes, a temperatura nas bancadas e no campo aumentam bastante, mas no fim tudo acaba bem.
A graça que têm os espectadores já ?tocados?, depois de tanto tempo de barriga encostada ao balcão do bar, tentando eruditizar o seu discurso ao analisar o jogo e as performances da sua equipa no campeonato.
E as senhoras!!! Que arreganho, só comparável ao da claque feminina do Nacional da Madeira. Vivem os jogos com uma paixão intensa, chegando a suplantar e abafar os homens da terra no apoio à equipa. Sofrem com os erros arbitrais como se estivessem a ser enganadas na praça pelo vendedor de fruta.
Saltam impropérios de todos os lados dirigidos ao árbitro, muitas vezes seguidos de sorrisos para a câmara dos repórteres do programa. Porque muitos desses impropérios são apenas o estravazar de sentimentos reprimidos pela emoção do jogo, que depois se esvaem e dão lugar a um contentamento de dever cumprido por terem apoiado, à sua maneira, as suas gentes e a sua terra, transportadas nas chuteiras, muitas vezes rotas e velhas, dos seus briosos jogadores.
Por serem os últimos, a derrota quase sempre está ao virar da esquina, mas passou mais uma semana em que tentaram, conviveram, sofreram, riram, sonharam.
E já dizia o poeta: o sonho comanda a vida...
Um bem haja a todas essas gentes...

VAI SER RENHIDO, VAI!!!


Há poucos dias o meu amigo e colega de blog, o grande Zeferino, fez um comentário em termos meio jocosos sobre o meu novo telemóvel ser igual a um dos telemóveis de uma marca asiática, publicitada pelo José Mourinho, dizendo que eu queria ser igual ao Mourinho. Mas já que tenho a fama, quero ter o proveito. E vou substituír o papel que o treinador português tinha na revista semanal do jornal Record, visto que ele deixou de escrever as suas crónicas semanais. Claro que para a maioria dos portugueses isto que estou a dizer será uma heresia (até para mim, mas eu sou um herege assumido), mas não faz mal...
Hoje vou destacar um grande jogo em prespectiva: o Barcelona - Benfica de 4ªFeira.
O Barcelona - Benfica vai pôr em confronto duas filosofias de jogo distintas.
O Barcelona é claramente uma equipa virada para a frente, que previlegia os aspectos ofensivos, desde sempre foi assim e os próprios adeptos só admitem presenciar futebol de ataque. Claro que quando se tem o poderio financeiro que permite adquirir grandes jogadores sem vender a alma, como por exemplo não ter publicidade nas camisolas (algo do qual poucas equipas podem gabar como, além do Barcelona, o Atlético de Bilbau) se é obrigado a jogar ao ataque. É uma equipa que joga num claro 4x3x3, com quatro jogadores fundamentais nesse sistema: Puyol, Deco, Ronaldinho e Eto'o. Puyol é o capitão, o líder dentro de campo, a raça, o barómetro defensivo que confere estabilidade à equipa no meio de tantos jogadores com vocação ofensiva. Deco é uma espécie de líder silencioso, que dá o corpo ao manifesto em prol da equipa, sendo actualmente, dos chamados números 10, o mais completo, o único que conjuga saber defender com uma técnica apurada que lhe permite lançar o ataque, seja com passes curtos tabelando em progressão, seja através de passes longos, quer laterais em mudança do lado da bola para descongestionar jogo, quer em profundidade nas costas das defesas adversárias. Ronaldinho, o melhor jogador do mundo, é um jogador que trata a bola por tu, parece que ela faz parte do seu corpo tal o domínio que tem ao recebê-la. É um artista com técnica, rapidez, força explosiva e capacidade concretizadora, tudo sempre com um sorriso nos lábios. Devido à sua juventude e força ainda faz as laterais ofensivas, mas no futuro vai certamente jogar no centro do terreno, onde a explosão e velocidade são menos necessárias. Por fim Eto'o, é o chamado matador de área, felino na procura de espaços na boca do golo, com um remate fácil e poderoso. Além disso, é rápido e tem boa impulsão, sendo um bom cabeceador por isso mesmo, dado que não tem uma estatura elevada. Uma dedicatória especial para um jogador que pelas suas características pode vir a ser o jogador mais parecido com o genial Maradona em tudo, na estatura, na rapidez em saír da marcação driblando o oponente que o marca, na especialização do uso do pé esquerdo e até na nacionalidade: argentina. Messi é o seu nome...
Resumindo, o Benfica tem de estar atento a Deco, Ronaldinho e Eto'o, evitar conceder livres à entrada da sua grande área, nos quais Ronaldinho e Deco são especialistas, pressionar os laterais que são razoáveis a atacar mas que deixam espaços na defesa da sua baliza, devido à sua propensão ofensiva.
O Benfica, por sua vez, tem como base um 4x2x3x1 que previligia a consistênsia defensiva e exploração do contra-ataque, aproveitando o adiantamento dos adversários. Assenta o seu jogo defensivo em três traves-mestras: Luisão (o único jogador de todas as equipas ainda em prova que fez os 90 minutos em todos os jogos da Liga dos Campeões deste ano), Anderson e Petit. Luisão é muito útil no jogo aéreo devido à sua elevada estatura, mas tem bons reflexos nos lances de bola pelo chão e boa colocação no terreno, que lhe permite disfarçar a menor velocidade decorrente da sua estatura e elevado centro de gravidade. É também o verdadeiro líder da equipa em conjunto com Petit, nos incentivos aos colegas quando é preciso apelar ao espírito de sacrifício para virar resultados negativos ou segurar as pontas na defesa. Anderson é um jogador que aparenta grande calma, é como Luisão, um jovem com muito espírito de luta e garra, que é forte na marcação individual e com bom jogo aéreo. É mais rápido que Luisão nos espaços curtos, mas perde na imponência perante os adversários que a estatura do colega de defesa lhe confere. Complementam-se bem. Por fim, Petit. É daqueles jogadores que os adversários temem por ser muito impetuoso na disputa de bola, por vezes exagerado e a roçar o violento. É o pulmão da equipa, sabe defender como poucos em Portugal e também importante no lançamento de contra-ataques, devido à sua facilidade de colocação de bola em 50 metros. Também é perigoso na execução de livres laterais junto à área adversária, combinando muito bem com Luisão, colocando a bola à mercê da cabeça deste. Esteja Simão a um nível mais apurado de forma física e psíquica, este jogo será o ideal para ele despontar, devido às tais fragilidades dos laterais barcelonistas. Muito importante será também Manuel Fernandes, no equilíbrio do meio campo. Manuel Fernandes, que será o jogador de maior futuro no plantel do Benfica. Uma palavra especial para outro jogador que dá tudo em campo: Leo. Quem olha para ele pensará que não terá hipóteses de ser um lateral que sustente adversários com mais poder físico que o brasileiro, mas ele compensa o menor físico com uma atitude guerreira e ritmo de jogo muito bons e que encaixam no futebol europeu. Miccoli será a chave do jogo se jogar de início e começar a conseguir importunar a defesa espanhola com a sua velocidade, para não pôr o jogo em sentido único, o da baliza benfiquista, e enervar o público catalão, enervando também os adversários.
Equipas prováveis: Barcelona- Vítor Valdés; Belletti, Puyol, Oleguer e Van Bronckhorst; Van Bommel, Iniesta e Deco; Larsson, Eto'o e Ronaldinho. Benfica- Moretto; Ricardo Rocha, Luisão, Anderson e Leo; Petit e Beto; Geovanni, Manuel Fernandes e Simão; Miccoli.
Pontos-chave para o Benfica: manter a organização defensiva, não sofrer nenhum golo no início do jogo e enervar o público catalão com contra-ataques venenosos explorando as laterais, não fazendo cruzamentos devido à baixa estatura de Miccoli, mas entrando na área em tabelas com o italiano a servir de pivô, deslocando os centrais com as suas movimentações para aproveitamento dos espaços nas suas costas ou, até, explorando o forte remate de fora da área de Miccoli, caso não seja acompanhado pelos defesas adversários.
É preciso ter coragem e aproveitar as oportunidades que surgirem...
Zeferino, diz-me lá se eu não sou melhor que o Mourinho?