5.1.06

"Ó TEMPO VOLTA PARA TRÁS"

Os comentários que, sempre que passeio na rua, ouço mais frequentemente em jeito de desabafo sentido e saudoso são invariavelmente os mesmo: "No meu tempo é que era bom. Já não há jogadores de futebol como antigamente. Isto agora é tudo uma cambada de chupistas. Só querem é saber do dinheiro. Não há amor à camisola!!!". Respondendo a essas almas inquietas decidi dar a minha humilde contribuição no sentido de dar espaço à glorificação de alguns dos maiores ídolos do futebol português dos últimos 25 Anos. Uma espécie de "Dream Team". Com todo o respeito por todos os outros que, sem dúvida alguma merecedores, ficaram de fora desta selecção. Os 11 nobres cavaleiros são:
GUARDA-REDES - Zé Beto (ex-F.C.Porto). Um autêntico "One Man Show" nas balizas portistas nos idos anos 80. Conjugava uma elasticidade fora do vulgar com um feitio irascível, bem demonstrado na Final da Taça das Taças de 1984 contra a Juventus, quando teve de ser impedidopelos seus companheiros de equipa de chegar a roupa ao pêlo do árbitro do jogo, após o que julgou ser um chamado "roubo de igreja", prejudicando as suas cores.
DEFESA DIREITO - Paixão (ex-Farense). Jogador tipicamente antes quebrar que torcer. Não fazia reféns junto à sua área de baliza e distribuía fruta que nunca mais acabava. Era, no fundo, um apaixonado pelas rótulas, canelas e tendões de Aquiles que povoassem o seu espaço jurisdicional.
DEFESA ESQUERDO - Vlk (ex-F.C.Porto). Proveniente da antiga Checoslováquia, este esquerdino alto e esguio, foi considerado durante toda a sua carreira o melhor defesa esquerdo europeu com um nome sem vogais. Fazia todo o corredor esquerdo e era-lhe indiferente o processo defensivo ou ofensivo. Para ele tanto lhe fazia ser constantemente fintado pelo ponta direito adversário ou ir à linha de fundo cruzar para trás da baliza.
DEFESAS CENTRAIS - King (ex-Farense e Benfica) e Tanta (ex-Famalicão e V.Guimarães). King era mesmo o Rei das "patadas atómicas". Bastas vezes foi visto e revisto a pontapear o que lhe aparecia à frente. E, por vezes, também acertava na bola... Já Tanta, por sua vez, distinguia-se pelas suas encaracoladas e escuras melenas. O típico personagem boiadeiro do sertão brasileiro. Um esquerdino de porte atlético assinalável, forte na bola dividida (até porque afungentava a concorrência), forte no jogo aéreo e com um fraquinho pelas canelas dos oponentes.
MÉDIO DIREITO - Pitico (ex-Farense). Sem dúvida alguma, um dos mais tecnicistas e velozes extremos que o futebol nacional admirou. Um Luís Figo dos pobrezinhos. Nos seus tempos áureos o Farense era Pitico mais 10. Será só coincidência o facto de o clube ter começado o seu declínio após a saída de Pitico. Será?
MÉDIO ESQUERDO - Caccioli (ex-Gil Vicente). Quando a sua careca luzídia se desvendava à saída dos balneários, em direcção ao rectângulo mágico, o povo sentia que o espectáculo estava garantido. Jogador com um pé esquerdo primoroso, fazia aberturas com a mestria própria do talento que possuía. Sofria com o facto de os relvados nacionais serem curtos. A bola seguia o seu trajecto, mas saía invariávelmente devido a esse defeito dimensional. Por esse motivo os adeptos sentiam-se, também, parte integrante do jogo, assim como os fiscais de linha, o 4ºárbitro, os treinadores e os jogadores suplentes.
MÉDIOS CENTRO - Bóbó (ex-Boavista) e Tahar (ex-U.Leiria e Benfica). O que dizer de Bóbó? Bóbó era uma espécie de amargo de boca para os adversários. Parecia que só com a sua presença "engolia" os opositores. Um autêntico muro no meio campo boavisteiro, sentia-se como peixe na água quando, fruto das picardias entre os atletas, a temperatura do jogo subia a níveis desaconselháveis ao comum dos mortais. Mas este era um grande Bóbó!!! Tahar foi, também ele, um dominador das zonas que pisava. Como um crocodilo se move com à vontade nos pântanos mais perigosos à procura da próxima presa, Tahar movia-se pelos relvados dos estádios portugueses farejando as rótulas e os tendões de Aquiles de outrém. Os fãs do futebol nacional apenas lamentarão intemporalmente o facto de nunca terem tido a oportunidade de vê-los actuar lado a lado, defendendo as mesmas cores. Formariam um meio campo inexpugnável.
MÉDIO CENTRO OFENSIVO - Careca (ex Sporting). À sua chegada a Portugal, este brasileiro de porte atlético algo anafado, foi apelidado de "novo Eusébio" por Sousa Cintra, na altura presidente do Sporting C.P., clube no qual ingressou no final dos anos 80. E realmente existiam grandes similariedades entre Careca e o Pantera Negra, Eusébio da Silva Ferreira. Passo a explicar: Eusébio possuía excelente domínio de bola. Careca também. Eusébio, no final dos anos 80, ostentava uma proeminente barriguinha. Careca também. Eusébio tinha (e ainda tem) a fama de apreciar um bom vinho,um bom whisky ou uma boa cerveja geladinha. Careca também. Daí a injustiça do tratamento a que Careca foi votado pela "aficion" leonina e o desdém com que era apreciado pelas claques dos clubes rivais. Se o jovem tinha a técnica de Eusébio, a barriga de Eusébio e os gostos de Eusébio, sendo ele mais novo, etariamente falando, tinha ou não razão Sousa Cintra nas suas afirmações? Claramente um dirigente com conhecimentos profundos de futebol...
PONTA DE LANÇA - Skhuravy (ex-Sporting). Esta foi a posição de escolha mais difícil. À minha memória vieram de imediato 3 nomes: Pringle, Baroni e Skhuravy. Pringle era um jogador sueco que brilhou ao serviço do Benfica e possuidor de altura assaz desfasada da média nacional. Tinha uma mobilidade aceitável, dois pés dotados de uma técnica razoável e revelou-se empreendedor em prol do colectivo. Mas não quis ser acusado de, porventura, estar sob o patrocínio de uma marca de batatas fritas homónima do longilíneo sueco. Por sua vez, Baroni era um jogador peruano que vagueou pelos relvados portugueses envergando a camisola do F.C.Porto, nos tempos do "passe precise" do sr.Bobby Robson. Era alto, com um corpanzil robusto, um autêntico carro de assalto, mas tinha azar com a bola. Atrapalhava-o um "pouco". Mas o maior de todos foi Skhuravy!!! Oriundo, como Vlk, da ex-Checoslováquia, ainda é o detentor do remate à trave mais caro da História do futebol português. E que remate,senhores!!! A barra da baliza do Desportivo de Chaves estremeceu quase tanto como os cofres leoninos (ao tempo dirigidos por Pedro Santana Lopes) no final do mês ao comparar o saldo de golos versus dinheiro que era pago ao internacional checoslovaco. Foi mesmo considerado, por uma revista internacional de cariz financeiro, como um dos poucos casos em que o trabalhador de Leste conseguiu explorar o patrão ocidental. Só por isso mereceria uma referência especial...

Assim finalizo a escolha do "Drem Team" dos relvados nacionais dos últimos 25 anos. Mais uma vez peço desculpa a alguns jogadores que não integraram esta selecção humildemente escolhida por mim. Assim, de repente, haveria um Valtinho, um Mogroviejo, um Washington Rodriguez. Sei lá... tantos. Mas se Scolari não convoca Vítor Baía, quem me pode agora criticar...?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

muito bom, recordar é viver

14.4.07  

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